Seu Raimundo e dona Rosa: revelações dos caminhos da Alma

O caminho, a estrada, rodovia que liga Exu-Pernambuco ao Crato-Ceará é a via das maravilhas. As paisagens agem e ardem em eco.

Ao caminhar, ao subir a Serra do Araripe, a sensação é de ser criança que não pode enumerar nem definir as belezas do caminho. Sou conduzido por minutos sem exclamações de qualquer natureza, extasiado embora com as magnificências da paisagem.

Na Chácara Frei Damião, um pedaço de Exu, acreditei ver constelações acima: sagitário, o cruzeiro do sul, ursa maior, as três marias ou o cinturão de órion.

Era a primeira vez que estava ali, mas havia a sensação de já ter percorrido aquela estrada, o caminho das almas e sabia detalhe a detalhe, como se já tivesse vivido um longo processo de aperfeiçoamento espiritual.

A sensação era das dúvidas já vividas dos caminhos do coração!

Na noite de sábado, 25 de junho, conheci seu Raimundo de Souza Sobrinho e dona Rosa Joaquina. Ouvi muito e recolhi-me ao silêncio da simpatia e gratidão por aquele encontro. Autêntico aprendizado de uma companhia que só transmitiu riquezas.

Entre os fatos vividos consta uma "dança de forró ao som da sanfona dO 8 Baixos tocado pelo pai de Luiz Gonzaga, seu Januário". Seu Januário morreu em 1978.

A idade de Rosa e Raimundo revela 170 anos de vida. Numa conversa curta aprendi que a vida é um grande sertão e possui um trajeto antes do mar imenso ser atingido.

Meditei nos problemas dos caminhos humanos e refleti sobre o interesse de seu Raimundo pela música de Luiz Gonzaga.

A vida é uma cópia da expressão da alma e a alma percorre caminhos mais variáveis e etapas diversas. Dessa vez alcancei o ensinamento da espiritualidade. Seu Raimundo e Dona Rosa são operários da Vida...irrigaram minha alma. Irrigaram minha Fé e Força!


Nenhum comentário

Fazenda Araripe, Chácara Frei Damião, Sitio Salva Vidas. A noite é de São João

Mês de junho! Lembrei que a última apresentação em vida de Luiz Gonzaga foi realizado em 6 de junho de 1989, no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife. Na oportunidade já cansado e muito doente Luiz Gonzaga chorou e pediu "prá não deixar o forró morrer".

Estive em Exu, no período de 22 a 25 de Junho. Não vi os olhos raros que enxergam além do que veem. Na terra onde nasceu Luiz Gonzaga, a mensagem não se fez ouvir.

Joquinha Gonzaga, neto de Januário e sobrinho do Luiz Gonzaga, lamenta a injustiça de em plena noite de São João não haver em Exu, Pernambuco, um forró pra lembrar o inventor do Baião, aquele que um dia deixou o seu pé de serra e embrenhou-se pelos emaranhados da busca e do sonho e que foi o começo de uma grande empreitada e de uma desafiadora lição de vida e vivência.

Mas a vida é realizada nos extremos. O  amor e o ódio. O real e o fantástico, a dor e o prazer, a amizade e a covardia, o breu da incerteza e a luminosidade da esperança, o medo e a ousadia, o erro e a redenção, o pecado e o perdão, a fé e a crendice, a tristeza e a festa.

Na Serra do Araripe, divisa com o Ceará, o passado ainda está presente, e o presente simboliza o futuro. Luiz Gonzaga vive!

Na fazenda Araripe um dos mais valiosos símbolos da obra e vida de Luiz Gonzaga, a família Alencar guarda construções que marcaram a vida de Luiz Gonzaga. A casa onde morou os pais do Rei do Baião, Januário e Santana, a igreja de São João Batista, a residência do Barão de Exu...a terra, o fogo, o ar e água tudo ali lembra Luiz Gonzaga.

Na Chácara Frei Damião, distante 26 quilometros do Crato-Ceará, próximo a Exu, "Seu" Cosme e dona Maria Mimosa Cavalcante de Souza entregam-se a essencia da alma e faz da noite junina um sentimento mais humano.

A família, amigos e vizinhos, medem palmo a palmo a vastidão do imaginário popular e desvendam a perfeição dos sonhos inatingiveis e amalgam anseios, a fé e as várias conquistas. Naquela noite estávamos todos reunidos através dos sons quase mágicos de uma sanfona de 80 baixos.

Na casa da família Cavalcante Souza havia mesa fartura de pamonha feita com manteiga da terra. A buchada e a cachaça, a galinha de capoeira. O milho, a rapadura e a fogueira, a manifestação plena da essencia humana e grandiosidade da noite de junho.

No alpendre da casa escuto a professora Antonia, no balançar da rede, contar fatos que são ao mesmo tempo belos e misteriosamente encantados. Professora Antonia me faz compreender as figuras humanas mais humanas, a criaturas belas, mais belas, a natureza das pegas de bois, as origens de Cocaci, os Inhamuns-Ceará.

Professora Antonia ao falar, os olhos faiscam de astros a escuridão da noite humana e fazia-se perceber entre vaga lumes e querubins a essencia que reluz do que havia se perdido e ali encontrava as respostas para a própria razão de sonhar e viver.

Seu Cosme acompanhado de seu Zé Lira me levou ao sitio Salva Vidas. Nome sugestivo quando vi o povo a rezar a Novena de joelhos. Havia ali a Capela São Francisco e escutei histórias de muitos que vieram ao mundo pelas mãos da parteira do local.

Tudo isto me fez lembrar da profecia do professor, danado e cantador, quase vidente, Aderaldo Luciano quando diz que o Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado nestas paisagens há mais de cem anos.

O Nordeste teria e seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões.

Luiz Gonzaga, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. Luiz Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz.

Entre os dias 22 a 25 de junho, vi em Exu, Chácara Frei Damião, Sitio Salva Vidas, Crato, Vi galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

Enfim, compreendi que a história vem se tecendo com a força da própria vida. E por isto, disse o cantador Virgilio Siqueira, daí não ser possível guardar na própria alma a transbordante força de uma causa. Daí não ser possivel retornar, afinal, a gente nem sabe ao certo se de fato partiu algum dia...



Nenhum comentário

Fazenda Araripe em Exu viverá Novenas de São Joao Batista

Em tempos de forró eletrônico e quadrilhas estilizadas, a melhor tradição junina sobrevive
em um lugarejo escondido do Sertão. A Fazenda Araripe, berço do sanfoneiro Luiz Gonzaga, luta para manter as comemorações em homenagem ao padroeiro São João Batista, nos moldes de antigamente.

Numa festa onde o sagrado mistura-se ao profano, a impressão reinante é de que o tempo não passou,
apesar dos 148 anos decorridos desde que a imagem de "São João do Carneirinho", como é docemente conhecida no lugar, chegou da França, cumprindo uma curiosa promessa.

Por volta de 1850, quando uma epidemia de cólera alastrava-se, assolando as cidades vizinhas, o Barão de Exu e então proprietário da Fazenda Araripe, Gualter Martiniano de Alencar, apavorado pela perspectiva de ver a moléstia dizimar seu povo, fez um apelo a São João Batista: se no seu município ninguém fosse vitimado pelo cólera, ele ergueria um templo ao santo, onde o padroeiro seria cultuado com toda dignidade até a quinta geração da família Alencar.

Coincidência ou não, o fato é que a doença, que liquidou a população de Granito, ao sul de Exu, e boa parte da de Crato, ao norte, "não desceu a serra do Araripe", como costumam dizer os narradores da história. O barão preparou-se, então, para cumprir a promessa.

Em 1867, acompanhada dos três reis magos e de uma artística caixa de música, chega da França a imagem de São João Batista, para ocupar a capela que já estava quase concluída. Talhada em madeira , a estátua de um metro de altura. 

No ano seguinte, começariam oficialmente os festejos juninos no lugar. Mas as novenas ainda seguem o antigo ritual, embora não ecoem mais pelo interior da capela as vozes possantes de Santana Gonzaga, mãe do rei do baião, e de Sinharinha dos Canários, personagem de suas músicas.

Os hinos, entoados por um pequeno coral do lugar, e a ladainha, que conta a trágica história do santo decapitado por ordem do rei Herodes, ainda são os mesmos de 148 anos atrás. Encerrada a novena, tem início o forró, patrocinado cada noite por um membro da família Alencar, tocado e dançado
como antigamente.

Em um local no centro da fazenda, conhecido como "latada", uma sanfona, um triângulo e um pandeiro demonstram, na prática, o que significa "forró de pé-de-serra" para uma platéia que é mestre no assunto. Em cada casa da vila, que não tem mais que 100 habitantes, uma fogueira esquenta a festa isenta de preconceitos.

 "No São João do Araripe, todo mundo é igual: preto e branco, rico e pobre. As diferenças acabam na latada", afirma a professora Neide Carvalho, que desde a infância é uma freqüentadora assídua da festa e está escrevendo suas memórias sobre o assunto.

Durante nove dias, a fazenda sobrevive "na base da chinela". "Creio que o Araripe é o último reduto de São João tradicional na região, apesar de não ser uma festa divulgada", diz Neide Carvalho.

E nem poderia ser diferente. Afinal, com os recursos e escassos nesses tempos de seca, somente uma promessa firmada em um passado longínquo, aliada à veneração dispensada ao padroeiro e ao fato de que ali nasceu e viveu o rei do baião, são capazes de manter acesa a fogueira de São João
do Carneirinho para iluminar a vila durante nove dias por ano.

Fonte: Facebook Fazenda Araripe
Nenhum comentário

Ivanildo Vila Nova e um café na beira do Rio São Francisco

Marquei um café com Ivanildo Vila Nova, considerado na atualidade um dos mais talentosos Cantadores de Viola. O trabalho de Ivanildo possui a sutileza dos versos, improviso e grande variedade de temas abordados. Seus repentes são carregados de questões de cunho social, político e traduzem a realidade do Brasil com citações de figuras como Lampião, Zumbi dos Palmares e Luiz Gonzaga.

"Cantoria de repente precisa de improviso". Foi logo sentenciando o violeiro". A lição é dada com autoridade de que possui mais de 50 anos de cantoria, cuja data completada, na verdade, foi comemrada em 2013. Portanto são 53 anos de vida profissional na cantoria de viola.

Ivanildo Vila Nova participou do Festival de Violeiros realizado em Petrolina e teve presentação de Iponax Vila Nova.

Ivanildo Vila Nova é um dos principais responsáveis pela profissionalização do repente e um dos mais antigos em atuação no estado, ele começou em uma época na qual não havia cachê, horário para apresentações, contratos, valorização do ofício. “Não há crise, porque passa de geração para geração. O cantador acompanha as mudanças, canta para o urbano, universitário, qualquer classe social. É uma profissão estável, que dá para criar os filhos”, garante ele, que carrega a viola desde os 18 anos e, desde os 12, já acompanhava o pai José Faustino Vila Nova, o primeiro cantador desafiado por ele.

Ivanildo é conhecido, gravou o nome na musicografia brasileira a partir de Nordeste independente, parceria com Braulio Tavares gravada pela paraibana Elba Ramalho no LP Do jeito que a gente gosta, de 1984 - após cinco anos de censura.

Nas cinco décadas, produziu festivais, congressos, encontros e fez incontáveis estrofes - a maioria cantada, mas algumas anotadas, como Orgulho de ser nordestino, sob encomenda para uma rede de supermercados -, muitas decoradas ou mantidas em um caderninho pelo filho Iponax Vila Nova.

“Eu não sou tão importante
Como acham no presente
Nem gênio nem professor
Nem fenômeno diferente
Sou apenas o que sou
Um cantador de repente”

Finalizou numa sextilha o poeta Ivanildo Vila Nova.
Nenhum comentário

Carta ao Poeta Danado e Cantador Flávio Leandro

Petrolina tem fartura / que o mundo inteiro consome / Já matou a minha fome / de comida e de cultura (…) / Tudo que eu ganhei cantando / na margem do São Francisco / E a semente que era um cisco / hoje está frutificando”, dizem os versos de Flávio Leandro, expoente, forró iluminado do  pernambucano de Bodocó, no encarte de Frutificando, DVD que será lançado em Exu, na terra onde nasceu o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, no domingo 19, no Parque Asa Branca, a partir das 16hs.

A gravação do DVD de Flávio Leandro aconteceu em Petrolina e pode ser traduzido, visto e espiado agora no mundo todo!  O lançamento do DVD em Exu em pleno mês junino certamente é um dos momentos mais marcantes da vida e obra do Poeta Cantador Flávio Leandro.

Ao escutar e assistir o DVD de Flávio Leandro é encontrar a voz poesia de Jorge de Altinho, Santana, Maciel Melo, Alcimar Monteiro, Flávio José,  Mariano Carvalho, Genival do Cedro, Joquinha Gonzaga,  Petrucio Amorim, Sara Leandro e isto serve para alimentar a alma da Melhor e mais prazerosa audição da  Música Brasileira.

O DVD Frutificando é um balaio cheio de poesia, maior que grande de harmonia, ritmo e melodia. Sentimento tatuado em pés de xique xique, mandacaru, música "zunindo" pura e verdadeira qual as águas do Rio São Francisco.

Em cada verso reportei-me ao poeta Zé Marcolino que imortaliza o sentido da palavra Poeta e Amizade...e assim cantou Zé Marcolino: "Num dia de reboco de casa no sertão do Nordeste é o dia da grande festa, da grande reunião.

Existe dois tipos de de reboco: o de barro sacudido e aquele que o sujeito passa a colher de pedreiro pra ficar bem lisinha...essa é a casa do sertanejo mais caprichoso. E então o pai de família mais caprichoso só leva a filha para um lugar desses, prá se divertir e gozar do momento mais significativo.

Então prá lá me dirigir para encontrar a mulher amada...na hora da aproximação! Peguei-a na cintura, sai cortando o  chão pelo pé com ela dançando e nessa conversa de esperança a noite passou, lá vinha a madrugada, a barra quebrando, o sol nascendo acabou-se a Festa"...

E foi assim, Flávio Leandro, eu vi, juro que vi na beira do Rio São Francisco e agora o Parque Asa Branca, Exu, Serrita e Bodocó, assistimos o sorriso de Dominguinhos e Luiz Gonzaga, João do Vale e Jackson do Pandeiro, Lindu, Cobrinha e Coroné, eles cantam "aí vai ser amor pra mais de duzentos anos pelos meus planos vou fazer uma casinha...com a varanda voltada pro sol nascente...se avexe não se trabalhar ainda for o meu defeito derrubo um eito de estrelas prá te dar"!

Obrigado Poeta Cantador Flávio Leandro. O teu terceiro DVD tá Frutificando...
Nenhum comentário

Iranildo Moura o pintor, amigo e admirador de Luiz Gonzaga e Roberto Carlos



Hoje fui desejar feliz aniversário a um amigo que o Rio São Francisco me deu. Iranildo Moura Leal completou 68 anos. Nascido em Petrolina teve a infância e adolescencia vivida na beira do Rio São Francisco.

Quando criança viveu em Casa Nova, Bahia. Ali entre os 8 anos e 12 anos conta que vivia olhando os barcos, os vapores que navegavam no rio São Francisco. "Entao comecei a pintar e fazer quadros. Expressar a natureza e a vida através da pintura", conta Iranildo.

Iranildo é colecionador de discos vinil. Apaixonado por cinema possui quase 3 mil filmes destaque para a história do Cangaço.

Em sua vida faz questão de destacar a coleção dos discos e cds de Roberto Carlos, Luiz Gonzaga e Trio Nordestino.

Iranildo revela que para que a obra seja bem feita, considerada profissional, é preciso que o artista tenha talento, criatividade e técnica. Usar materiais adequados também contribui para a qualidade do trabalho.

O artista plástico Iranildo Moura acompanha a vida e obra de Roberto Carlos. São mais de 50 anos, meio século,  de dedicação ao Rei Roberto Carlos.

Outro detalhe importante na vida de Iranildo é que ele participa há 40 anos da Jecana do Capim, evento que completa este ano 45 anos. Iranildo foi um dos melhores amigos do saudoso radialista Carlos Augusto.

Fui juntamente com Iranildo Moura homenageado no ano de 2012, durante festividades do Centenário de Luiz Gonzaga.

Membros da Comissão Suprapartidária do Centenário de Luiz Gonzaga, da Assembleia Legislativa de Pernambuco, através da então deputada Isabel Cristina  nos agraciou juntamento com o radialista Carlos Augusto com um kit contendo o livro “Luiz Gonzaga – O matuto que conquistou o mundo”, de autoria de Gildson Oliveira; o dvd “Luiz Gonzaga – A Luz dos Sertões”; dois cordéis: “O Nosso Rei do Baião” (Felipe Júnior) e “Luiz Gonzaga: Som, Voz e Poesia” (Cícero Lins de Moura); cartão (com a letra da música “Asa Branca”, um verdadeiro hino para os sertanejos).

Pela humildade e cultura meus parabéns amigo Iranildo Moura Leal. Feliz Sempre Aniversário.
Nenhum comentário

Jackson do Pandeiro o paraibano de Alagoa Grande

Vivemos uma crise de valores éticos e culturais. Todavia aqui e ali a indústria cultural lança um produto de qualidade, imagino ser um pedido de perdão por tanta porcaria que colocam no mercado...

Dessa vez chega ao público a caixa Jackson do Pandeiro – O Rei do Ritmo (Universal Music), com 12 CDs duplos e três simples e  já é um dos lançamentos mais importantes do ano na música brasileira.

O jornalista e critico musical José Teles conta que é um projeto que levou dez anos para ser realizado pelo pesquisador e produtor independente Rodrigo Faour, com Alice Soares, gerente do marketing estratégico, e Maysa Chebabi, coordenadora de label copies, estas duas últimas da gravadora.

A trinca enfrentou várias dificuldades, como. por exemplo, conseguir autorização da liberação das composições (alguns autores não foram encontrados), o que fez com que alguns álbuns originais não fossem relançados na íntegra. Outro problema foi a tortuosa carreira fonográfica de Jackson do Pandeiro (1919/1982).  Ela se estende por quase 40 anos, durante os quais o paraibano (de Alagoa Grande) gravou mais de uma centena de compositores, em diversos selos, em LPs, compactos e 78 rotações.

A caixa ficou assim dividida: Os Primeiros Forrós de Jackson do Pandeiro – Volumes. 1  e 2, com fonogramas dos anos 50,  Jackson do Pandeiro nos anos 60 –  com músicas lançadas na segunda metade da década. O início dos anos 60 está registrado em um CDs duplo, sob o título em Na Base da Chinela. Uma quarta compilação, batizada de Balança Moçada engloba gravações realizadas entre 1963 e 1971.
 
E também há dois discos originais, completos, estão sendo reeditados, Aqui Tô Eu (1970), e Isso É Que É Forró (1981) derradeiro LP gravado pelo cantor, ambos na Phillips, atual Universal Music. A caixa traz um encarte com as letras de todas as canções (num total de 235), mais uma síntese biográfica de Jackson do Pandeiro, assinada por Rodrigo Faour.

Portanto, para quem realmente gosta de música boa....o São João tá garantido...

Nenhum comentário

Xico Bizerra: Mais um São João sem Dominguinhos

Haverá festa? Este será mais um São João sem os acordes e as harmonias de seu Domingos. Não mais se ouvirá a sua voz bonita nem o toque da sanfona agarrada ao seu peito, amigos inseparáveis. Durante muitos são Joões saíram, ele e sua companheira de som, pelo mundo enfeitando a alma e o coração do nosso povo. Sua humildade, sua generosidade, estão em outra dimensão.

Quem conviveu com o Mestre sabe do que estou falando, da falta que ele faz nesse cenário musical tão degradado, tão pouco valorizado. Sua música, enorme como ele, ecoará pela eternidade e as flores por ela regadas continuarão a florescer dando-nos esperança de que a arte verdadeira prevalecerá. Sempre. Mas posso garantir que haverá festa, sim. É isso o que ele mais gostava de fazer. E a festa será bonita, apesar da saudade maior que imensa de sua voz, de sua sanfona, de seu sorriso, de seu abraço e do aconchego de sua presença física. Em nossos corações o Mestre está vivo e assim permanecerá.  Salve Dominguinhos.

Fonte: Xico Bizerra-Facebook- Poeta e Compositor
Nenhum comentário

Discos vinil. Raridades de Luiz Gonzaga

Discos de Vinil, Rádios, Feira das cidades do interior. Três paixões que tenho. Coloquei aqui dois discos selos originais, raros, estes fazem parte da minha coleção de Música, vida e obra de Luiz Gonzaga. Detalhe: percebam escrita Rosil, data 10-07-1967, ele perteceu a Rosil Cavalcanti, parceiro, compositor de Luiz Gonzaga e de Jackson do Pandeiro. O que impressiona? No dia 10 de julho de 1968 Rosil Cavalcanti morreu. Percebam o valor das datas...a assinatura é exatamente um ano antes dele falecer!

Rosil Cavalcanti é o autor de centenas de clássicos da música brasileira. Sebastiana, Aquarela Nordestina, Saudade de Campina Grande, Amigo Velho, Faz Força Zé...Rosil de Assis Cavalcanti nasceu em Macaparana,
PE.  Eu tive a honra de conhecer na década de 90, a viúva de Rosil, Maria das Neves-Dona Nevinha...

A capa desse disco vinil consta no livro biografia do músico pernambucano Rosil Cavalcanti. O livro “Pra Dançar e Xaxar na Paraíba: Andanças de Rosil Cavalcanti”, de  Rômulo Nóbrega e José Batista Alves, tem prefácio de Agnello Amorim.
Radialista, humorista, percussionista e compositor, Rosil Cavalcanti era radicado na Paraíba, foi autor de obras clássicas da música  brasileira, na voz de Jackson do Pandeiro, Marinês e Luiz Gonzaga, dentre outros intérpretes nacionais.

A biografia de Rosil Cavalcanti foi lançada em 2015 uma homenagem ao seu centenário de nascimento, 47 anos depois de sua morte, em 1968, aos 53 anos de idade, em Campina Grande, onde viveu a maior parte de sua vida e se projetou no Brasil.

O livro “Pra Dançar e Xaxar na Paraíba”, 444 páginas, editado pela gráfica Marcone, é enriquecido com vasta iconografia do biografado, suas fotos desde a infância, juventude, a vida de casado, em programa de rádio no papel do famoso personagem Capitão Zé Lagoa, além de imagens de Rosil com colegas de trabalho, artistas, músicos, suas caçadas e pescarias, capas e selos de discos.



Nenhum comentário

Projeto Acordes do Campestre em São Raimundo Nonato ensina através da Sanfona os valores da cidadania

Em São Raimundo Nonato, a 530 km de Teresina, o som que ecoa da sanfona estimula sonhos e alimenta esperanças. Um projeto cultural criado em 2011 pelo empreendedor musical Salvador Nunes e pelo seu filho Sandro Dias ensina a arte de tocar instrumentos a dezenas de crianças, jovens e adultos. Com poucos recursos e sem apoio de entidades governamentais, o projeto intitulado “Acordes do Campestre” é executado no terreiro da casa onde moram, em um bairro da cidade.

Sandro Dias, conhecido na região como Sandrinho do Acordeom, aprendeu tocar sanfona aos 13 anos, quando ainda morava com os pais na vizinha cidade de Dom Inocêncio, distante 104 km. Apaixonado pela música, ele resolveu, com o incentivo do pai, transmitir o conhecimento aos jovens que tivessem interesse. Hoje Sandro é o coordenador do projeto que ensina música voluntariamente.

Segundo ele, os jovens têm aulas de segunda a sexta-feira e podem aprender a tocar os mais diversos instrumentos. “Nós não cobramos nada para dar aulas, é tudo voluntário. Eles podem aprender a tocar os instrumentos que quiserem”, conta Sandrinho. Além da sanfona, o projeto também ensina flauta, baixo, violão, triângulo, zabumba e bateria. Qualquer jovem da cidade ou da região pode participar e existe apenas uma única exigência.

“A criança tem que ter no mínimo seis anos e precisa estar matriculada em uma escola”, lembra Sandrinho. Recentemente, o projeto passou a ter formalização jurídica e ganhou o nome de Associação Cultural Acordes do Campestre. Os jovens participam de apresentações na região e tocam hinos em corais durante os eventos.

 “Já fizemos apresentações em Teresina, em Bom Jesus e em cidades de Pernambuco como Afrânio e Petrolina”, informou Sandro. Nosso objetivo não é apenas ensinar a tocar, mas também formar cidadãos. Nós usamos a música para fazer deles cidadãos de bem"

Salvador Nunes, pai de Sandro, é o grande entusiasta da iniciativa. Segundo ele, mais que ensinar música, o projeto ensina crianças e jovens a serem cidadãos. “Nosso objetivo não é apenas ensinar a tocar, mas também formar cidadãos. Nós usamos a música para fazer deles cidadãos de bem”, falou.

Salvador conta que boa parte dos instrumentos utilizados no projeto é adquirida através de doações.
O sonho do jovem professor sanfoneiro é expandir a iniciativa e poder oferecer uma melhor estrutura para os alunos (

“Nós começamos com os instrumentos da nossa banda do Sandrinho do Acordeom, mas depois fomos recebendo algumas doações de mais instrumentos para colocar o projeto pra frente”, disse. Salvador explica que não aceitam doações de dinheiro em espécie, mas somente de instrumentos. “Já teve amigos que quiseram dar dinheiro, mas pedimos para que comprassem os instrumentos e nos trouxessem”, falou ele.

Os pais da comunidade dão total apoio e reconhecem a importância do projeto Acordes do Campestre. “Meu filho mudou muito depois que começou a ter aulas com o Sandrinho. Ele era muito danado e não ligava tanto para os estudos”, contou Bento Mota, morador da cidade. O filho dele está há dois anos no projeto e já sai da escola direto para as aulas de música.

O Acordes do Campestre conta atualmente com cerca de 60 alunos, a maioria crianças e adolescentes. Alguns dos jovens já tocam em grupos musicais da região. Em virtude do trabalho voluntário que mantém na cidade, Sandrinho recebeu em 2014 o título de Cidadão Sanraimundense, concedido pela Câmara Municipal de Vereadores. O jovem professor de sanfona também já foi homenageado na Procissão dos Sanfoneiros de Teresina e conquistou três vezes o Festival de Sanfoneiros de Petrolina.
 
Fonte: G1 - Piauí
Nenhum comentário

Virgilio Siqueira: Um canto de luzes e cores para Celestino Gomes

Pronto!
Agora, não mais incomodas
Agora a falsa ternura que brota das acomodadas e incomodadas faces
Mistura-se, sem nenhum pudor, à sagacidade de tua irreverência

Agora, não és mais um louco
Mas um excêntrico que os normais não conseguem entender e aceitar

(Mesmo sendo, cada um dos que hoje assim te veem
Parte do batalhão impiedoso que te julgava e condenava sumariamente)

Ora, mas agora nada mais importa!
Que fazer, se as mortíferas balas perdidas do mundo não te atingiram
E se o teu perturbativo jeito de ser, jamais se perturbara?

Diante de nós, acomodados sonâmbulos que nunca sonham
Eras um delírio permanente

Ou uma centelha que incandescia a escuridão que somos
E trespassava o breu impenetrável de nossa hipocrisia
Cotidianamente estabelecida
Covardemente aceita

Se eras, perante o mundo
Indiferente aos valores que se impõem a todos
Eras também, para este mesmo mundo, uma proposta de alento
Contida na inquietude de teus dias intensamente vividos
E em tuas noites, das quais não dependias para o sonho

Pronto!
Agora, não és mais uma ilha perdida
Na imensidão de uma cidade vazia, estéril
E hoje, mais que nunca, pálida, triste e pobre

A covardia, a servidão e o medo
Tranquilos, podem pastar na grama dos jardins das praças
Livres que estão dos afogueados ferrões e dos flamejantes chicotes
Que se manifestavam em tuas atitudes e em tua língua de farpas

Teus raros amigos saberão – alguns
Silenciar a dor da perda que não é perda
Outros tecerão e bradarão palavras em teu louvor no momento preciso
E assim, haverão de elevar-te o nome que já é, em si mesmo, celeste

Agora tu és o que sempre foste sem que nunca percebêssemos
Um caudaloso rio submerso a irrigar luzes e cores
A fazer que brotem da sequidão do solo do sertão
Arco-íris tingidos com tonalidades que nos acalentam e libertam

Agora, é como se em tua inquietação
Pairasse uma brandura que não se acomoda
E retinisse, numa candura que insiste em dizer-nos
Que és feito de fogo, de rio, e de sol

Pronto!
Agora dormem, sob o cerro de tuas pálpebras
As mais incandescidas imagens que concebeste
Em comunhão com os encantos dos entardeceres
Revestidos com enigmáticas tramas de tonalidades

Da mesma forma que dormem, em teu corpo inerte
Todas as cores e luzes que explodiram de teus pincéis
De teus anseios e de tuas mãos

Que teceram com raios de estrelas, de lua e de sol
Todos os encantos e desencantos, reais e fictícios
Que te faziam viver como sonhar

Como dormem, ainda
Acalentadas pela perpetuação do teu último suspiro
Repousadas na fartura do teu emblemático bigode
Todas as imagens
Minuciosamente capturadas pela agudeza de tuas retinas

Pronto!
Agora, tudo está definitivamente vivo
Quando cintilam as luzes que se manifestam nas cores de tuas telas
E nas formas das marcantes figuras esculpidas pelas tuas mãos
Concebidas pela humanidade que explodia em teu peito
E pela fecundidade dos teus argutos olhos azuis

Pronto!
Agora és o que sempre foste e o que sempre serás
Um homem liberto das amarras dos conceitos e dos preconceitos

A anti-razão do sonho, enfim realizado
Expresso no desejo maior de sentir-se, um dia, misturado
Às ternas e acolhedoras águas do amado
Velho Chico.

Fonte: Virgilio Siqueira-músico e poeta

Nenhum comentário

Geraldo Azevedo e se o amanhã não fosse tão distante

O cantor compositor Geraldo Azevedo recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido por quatro instituições de ensino - Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE), Universidade de Pernambuco (UPE) e Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (Facape).

Geraldo Azevedo, disse: “O que eu sonhei, ser um doutor, foi a música que me deu hoje”. A revelação emociou e emociona até hoje. Geraldo Azevedo, é uma das principais referências da cena musical brasileira.

Ele falou da época que viveu em Petrolina, sua cidade natal, e despretensiosamente exaltou a importância para a população local, da presença de universidades no sertão, região da qual saiu quando ainda era adolescente e foi morar no Recife e posteriormente no Rio de Janeiro. “Eu poderia ter estudado em qualquer uma destas instituições que hoje estão aqui”, comentou.

Geraldo Azevedo é personagem-tema do livro, quase homônimo, registrado com o criativo título, “Um Geral-do Brasil: Histórias de Um Menino Ribeirinho”, do professor da Uneb, Juracy Marques com contribuição dos jornalistas Jota Menezes, Emanuel Andrade, Edilane Ferreira, e dos educadores Ricardo Bitencourt e Joelma Conceição.

“Para mim é uma glória na minha carreira. O meu sonho quando eu era adolescente era me formar, era ser um doutor, eu não tinha sonho de ser artista, a arte, a música não era intenção de desenvolver como profissão, mas a própria música me solicitou e terminou ela mesma me dando o título que eu gostaria de ter na minha vida, de ser doutor, de ser formado. Para mim, hoje é uma realização de alcançar este título que eu estou ganhando”, disse Geraldo Azevedo em entrevista.

Juracy, coordenador do livro conta que em 2012, iníciou à orientação da dissertação de mestrado, em Ecologia Humana, de Edilane Ferreira, cujo título era: “As relações humano-ecológicas em ecocanções de Geraldo Azevedo: um estudo ecocrítico”.

“Quanto mais mergulhávamos nas canções de Geraldo Azeveo, a partir de métodos científicos, mais sentíamos a necessidade de irmos além da sua obra, conhecendo esse artista a partir da perspectiva histórico-memorialística, afetiva e ecológico-espiritual”, complementa Edilane.

Para a elaboração do livro, foram entrevistados familiares e amigos do artista, residentes em Petrolina e em outras regiões, do mesmo modo que realizadas pesquisas documentais.

A obra traz desde momentos vivenciados, pelo garoto Geraldo Azevedo, no Jatobá, até os encontros e as experiências em lugares como Recife e Rio de Janeiro.

“Ao narrar histórias sobre Geraldo, estamos tratando, igualmente, da história social e cultural da sua terra natal e do nosso país. Estamos, na verdade, apresentando um ‘Geral-do Brasil’”, disse Juracy.
Nenhum comentário

É junho. Acenda a fogueira gonzagueana no seu coração

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões.

Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos. Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de Baião.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O  peito de Luiz Gonzaga abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade.
 Viva Luiz Gonzaga do Nascimento!

Fonte: Aderaldo Luciano-Confraria-Facebook

Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial